Cecília Figueiredo*

Em 2018, as mulheres estavam nas ruas. No 8 de março, ou 8M, estávamos lá propondo, discutindo, mostrando as caras e os corpos, fazendo batucada, performando, levantando cartazes e bandeiras. Uma semana depois estávamos nas ruas novamente, chorando o martírio de Marielle. Ela que estava tão vibrante no 8M. De tão potente que foi sua fala debaixo da chuva fina eu não tive a coragem de mirar a lente e apertar o botão. Só escutei. E Marielle seguiu nas ruas ao longo deste ano de 2018 presente nas bandeiras, nos cartazes, na voz, na pele e na alma das mulheres que decidiram permanecer marchando. Muita coisa aconteceu neste ano e o processo eleitoral seguiu mostrando a cara feia do jogo político, mas as mulheres seguiram nas ruas. Em outubro estávamos lá novamente. Foi grande desde a mobilização, foi potente, foi emocionante. Uma semana antes, formamos o FotoMinas, um coletivo momentâneo que decidiu ir junto neste dia que chamamos de Ele Não. A proposta era deixar-se estar na marcha, viver e fotografar com a sensibilidade. O combinado era não fazer “jornalismo” para experimentar um outro jornalismo. E assim foi. Nos encontrarmos no metrô da Cinelândia, tiramos uma foto coletiva (que deve estar na memória de algum celular, de alguma rede social e um dia vai virar #TBT) e embaladas pela nossa versão feminista e brasileira de Bella Ciao, nos despedimos e nos separamos para nos reencontrarmos em uma pasta do google drive. Curamos as fotos coletivamente com critérios de diversidade e sensibilidade e publicamos o nosso primeiro ensaio.

Outros movimento de rua vieram e estávamos lá outra vez, juntas e separadas. Independentes e conectadas pelo fio invisível na vontade de imagens e por sermos mulheres do jornalismo da Rural.

Agora celebrando 10 anos seria impossível não reunir novamente estas minas da foto e novamente curar imagens.

*Cecília Figueiredo é fotógrafa e docente do curso de Jornalismo da UFRRJ.